Textos e fotos de Jorge Lima Alves

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fotografia e Viagem



Viajar e fotografar são duas das coisas que mais gosto de fazer na vida. Para mim, são prazeres quase inseparáveis um do outro. Do mesmo modo que não me imagino a viajar sem, pelo menos, uma máquina fotográfica, de que cada vez que me disponho a fotografar é como se embarcasse para uma terra estranha. Mesmo em Lisboa, mesmo em casa, quando saio para a rua para fotografar, transformo-me instantaneamente num turista. Turista sim, não tenho medo da palavra. Faz-me rir a conotação negativa que ela ganhou e a presunção com que algumas pessoas reivindicam: «Eu não sou turista, sou um viajante». Esquecem que há mil formas de fazer turismo e outras tantas de ser viajante. Nem todos os turistas andam atrás de postais ilustrados, nem todos os viajantes estão animados das melhores intenções. Além de que para se ser viajante são precisas, pelo menos duas coisas, que poucos têm: muito tempo e muito dinheiro (ou uma profissão que implique viajar, é claro).
Adiante.



A fotografia exerce sobre mim um fascínio da mesma ordem que a viagem. Podia racionalizar à exaustão este paralelo, mas fico-me só pelo facto de ambas implicarem um desejo insaciável de ver e descobrir não se sabe bem o quê. Viajar e fotografar implicam uma atenção extrema e desfechos imprevisíveis. Num caso como no outro nunca sabemos o que vamos ver ou sentir.



Quando acabamos uma viagem, a única coisa que fica são o que compramos e as fotografias. É por isso que são as duas actividades preferidas dos turistas. Tudo o resto (as paisagens magníficas, os templos espectaculares, a gastronomia sofisticada, as conversas de rua) acaba por parecer um sonho, pois se escapa por entre os dedos, como água ou areia. Não fomos feitos para possuir nada: tudo o que podemos fazer é esquecer e sonhar.



A vida é, com efeito, um sonho que podemos fotografar. Em contrapartida, das minhas aventuras oníricas, nunca consegui trazer uma imagem. Quanto muito, algumas palavras.



Como fotógrafo, por vezes gostaria de fotografar o que já não existe. Ou o que ainda não existe. É o que tentamos fazer quando fotografamos ruínas, por exemplo, ou uma paisagem onde virá a ser construído um aeroporto ou um condomínio de luxo. Como seria interessante poder tirar fotos da antiguidade, da idade média e, já agora, do futuro. Viajar no tempo... isso sim, seria viajar.



Não sou muito original: gostaria de ver o mundo todo antes de morrer. Adoraria dar a volta à prisão, como dizia Margueritte Yourcenar que considerava o nosso planeta um enorme presídio. Com toda a razão: aprisionados neste mundo, condenados à morte, esperamos a nossa hora de descobrir a verdade. Ou de simplesmente desaparecer. O castigo é esse: não sabermos o que nos espera. Mas supondo que há vida depois da morte, uau... que viagem!

Fotos (de cima para baixo): Cabo Verde, Egipto, Japão, Holanda, Dubai e Malta